GREVE NA UFRGS e a Conjuntura Nacional da Educação
Em Assembleia Geral, na última segunda-feira (25/06), na Faculdade de
Economia, os professores da UFRGS, convocados pelo ANDES-SN, aprovaram o início
da greve na universidade para sexta-feira (29/06). Com o auditório lotado,
ampla maioria dos docentes posicionou-se favorável à deflagração da greve, com
apenas 06 professores contrários e 15 abstenções. Após a assembleia, os
professores, representados por uma comissão, dirigiram-se até o Gabinete do
Reitor, onde entregaram um documento de reinvindicações e o resultado da
votação.
A partir deste posicionamento, a UFRGS pode se juntar às quase 60 Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) que hoje se encontram mobilizadas em greve. A intensidade da greve docente nas universidades federais tem como força motivadora a insatisfação pela sobrecarga de trabalho, as condições precarizadas em que esse trabalho é realizado e a necessidade de uma reestruturação da carreira que valorize a docência e permita aos professores oferecerem um ensino de qualidade.
O projeto REUNi, que completa 5 anos em 2012, foi responsável pela criação de cursos e ampliações de vagas em universidades federais de todas as regiões do país. Entretanto, essa expansão das universidades brasileiras veio desacompanhada da estrutura condizente com a nova demanda apresentada. Em muitos locais, triplicou-se o número de vagas, enquanto a estrutura permaneceu a mesma. Somando o REUNi com o corte de 3,1 bilhões da verba destinada à educação, o que sobra são servidores sem reajuste salarial há mais de 5 anos, professores com aumento excessivo da sua carga de trabalho e alunos que ingressam nos cursos novos sem a garantia de uma formação de qualidade, pois não há salas, laboratórios, enfim, a assistência necessária.
E o DAFISIO frente a tudo isso?
A questão principal não é simplesmente declarar-se a favor ou contra uma
greve nacional. Mas sim, fazer uma reflexão a cerca de tudo aquilo que
acreditamos e que defendemos como uma das principais bandeiras de luta de nossa
entidade: EDUCAÇÃO PÚBLICA COM QUALIDADE.
Pensar em educação pública com qualidade, em uma conjuntura nacional, é pensar em investimento na educação e ampliação de vagas com qualidade. Pensar em educação pública com qualidade, na nossa própria Universidade, é pensar em espaço físico condizente com a demanda apresentada por cada curso; é pensar em contratação de professores com salário e condições de trabalho dignas; é pensar em questões de permanência que permitam que o estudante consiga se manter na universidade; é pensar se o tripé ensino-pesquisa-extensão funciona na prática e se as produções científicas servem à sociedade; é pensar se os técnicos e terceirizados, que movem nossa universidade, estão recebendo salário e condições de trabalho dignas.
Trazendo a discussão um pouco mais pra perto de nós: o Campus Olímpico (ESEF) e o Curso de Fisioterapia da UFRGS. Felizmente hoje podemos dizer que os últimos estudantes a ingressarem no curso já não têm mais que vivenciar problemas como a primeira turma, principalmente, e a segunda vivenciaram. Tivemos algumas evoluções e melhorias? Até tivemos. Mas é importante termos claro: nenhuma dessas melhorias ocorreu por maior investimento na educação ou pela melhoria da estrutura do campus. Aquilo que conquistamos está aí em função de estudantes, professores e funcionários que se esforçaram, tiveram muita paciência e deram a cara a tapa muitas vezes, para conseguirmos levar o curso do jeito que dava.
E aí chegamos a um ponto importante e a um questionamento que todos deveriam estar se fazendo. Pensamos muito nisso, debatemos muito sobre a greve e, para nós – DAFISIO, mesmo reconhecendo a força de todas e todos que lutaram pelo curso até agora, levar nossa formação “do jeito que dá” não nos parece a melhor opção. Formar uma primeira turma que não teve a oportunidade de ter disciplinas importantes, como Saúde da Mulher e Eletroterapia, porque o governo cortou a contratação de professores, ao menos para nós, não bate com a ideia que temos de uma formação com qualidade. Termos a enrolação sobre a construção do prédio da ESEF desde que a primeira turma entrou na UFRGS, vendo salas de aulas cada vez mais improvisadas, não nos dá orgulho algum de dizer que “estudamos na 3ª melhor Universidade da América Latina”.
Podemos entrar no debate sobre a greve alterar o calendário acadêmico, mas precisamos pensar no que realmente é nocivo à educação. Também achamos ruim atrasar o início do próximo semestre e talvez termos aula em uma data em que estaríamos de férias. Sabemos que temos colegas com viagens marcadas e, mesmo que não sejam muitos casos, nos sensibilizamos a isso. Entendemos as frustrações dos colegas e compartilhamos de algumas, mas acreditamos que com esclarecimento e sensibilidade, dá pra aguentar. O que não dá é pra continuarmos fingindo que está tudo bem, porque sabemos da nossa realidade e a conjuntura nacional nos mostra MUITO bem que o problema não está isolado, que não é um problema de organização do curso ou de administração do campus. É um problema que envolve prioridades de investimento no nosso país, que corta cada vez mais verbas destinadas à educação e à saúde, ao mesmo tempo em que investe bilhões dos cofres públicos em estádios para a Copa do Mundo.
São 59 Instituições Federais de Ensino Superior em GREVE, mais de 30 onde estudantes se posicionaram a favor da greve de docentes e servidores.
O DAFISIO soma-se a estes estudantes e declara-se, publicamente, A FAVOR DA GREVE também!
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